Eu me coloco em chamas, e o povo vem de toda parte para me ver queimar. – John Wesley1
Faz dos seus anjos espíritos, dos seus ministros um fogo abrasador. – Salmo 104:4 JFA
Mahatma Gandhi, líder pacifista na Índia no século passado que, embora sendo Hindu, nunca escondeu a sua admiração para o ensino do Senhor Jesus Cristo, é apontado como o autor de uma frase que até hoje se vê repetida na cultura popular: “Seja a mudança que você quer ver no mundo”. Frequentemente, incomodados com as situações injustas tão ocorrentes no mundo no qual vivemos, reclamos sem tomar qualquer ação para fazer uma mudança substancial. Assim como sugerido por Gandhi, é nossa a responsabilidade de atuar como agentes da mudança que queremos ver, ao invés de simplesmente criticar, comentar ou lamentar pelo que tem ocorrido.
Creio que este adágio de Gandhi possa ser aplicável ao avivamento. Nós, seguidores do Senhor Jesus, precisamos ser o avivamento que queremos ver no mundo.
Durante muitos anos nós da igreja evangélica brasileira, temos decretado, procurado, e profetizado o avivamento que sabemos que Deus quer derramar sobre essa terra. Talvez a hora já tenha chegado em que nós precisemos ser o avivamento que tanto buscamos.
Na minha juventude, quando ouvi falar dos grandes avivamentos do passado, eu tive a ideia errônea de que o avivamento era algo espontâneo e imprevisível sobre o qual nós não tinhamos nenhuma influência. Pensei que Deus derramava avivamentos em momentos e locais aleatórios da sua própria escolha, e que a nossa responsabilidade era apenas orar e esperar que, porventura, sua maravilhosa visita nos viesse surpreender em um momento não tão distante. Imaginei que os avivamentos sempre começavam com uma explosão, uma manifestação extravagante do poder do Espírito, e que eu precisava esperar por um derramar extraordinário da unção para poder vivenciar um verdadeiro avivamento.
Porém, à medida que tenho estudado sobre avivamentos contemporâneos e históricos, tenho percebido que, quase de praxe, o avivamento começa de uma maneira discreta, acanhada, quase despercebida, como “uma nuvem tão pequena quanto a mão de um homem”2. Contudo, onde existe um povo verdadeiramente faminto, sedento e desesperado para a manifestação da glória de Deus e pela expansão do seu reino, a pequena brasa é abanada, e rapidamente se torna um incêndio de grandes proporções, espalhando o fogo do avivamento por toda a terra.
O avivalista norte-americano Charles Finney foi um grande exemplo de homem que, a partir da sua conversão e batismo no Espírito Santo, até o fim da sua vida neste mundo, levou a chama do avivamento por onde ele passou. Em uma de suas famosas afirmações, sendo essa possivelmente a mais mal interpretada, portanto, criticada, declarou o seguinte:
O avivamento não é um milagre e não depende, de forma alguma, de um milagre. Ele é o resultado do uso correto dos meios constituídos.3
Obviamente, Finney não disse que o avivamento é algo de origem meramente humana, nem insinuou que o avivamento não seja sobrenatural, oriundo do Deus Todo Poderoso. Talvez a definição da palavra “milagre” no Dicionário Michaelis nos ajude a entender melhor o que o avivalista quis realmente dizer com esta frase tão polêmica:
Mi-lag-re: sm Fato ou acontecimento fora do comum, inexplicável pelas leis da natureza.4
Quando definimos um milagre como sendo algo “inexplicável” e “fora do comum”, podemos entender porque Finney disse que o avivamento não é um milagre. Para ele, o avivamento era algo comum, algo normal, tanto que quando Finney não via o poder de Deus operando através da sua vida, percebia que algo estava errado e buscava o Senhor até ver, novamente, a operação sobrenatural do Seu Espírito:
Algumas vezes, me achava vazio desse poder: saía a fazer visitas e verificava que não causava nenhum impacto que conduzisse as pessoas à salvação. Exortava e orava, também sem resultados. Separava, então, um dia para ficar sozinho em jejum e oração, temendo que o poder me houvesse deixado e indagando ansiosamente pela razão dessa aparente destituição.
Após ter-me humilhado e clamado por auxílio, o poder voltava sobre mim em todo o seu vigor. Tem sido essa a experiência da minha vida.5
Quando perguntavam a John Wesley, o catalisador do avivamento metodista no século 18, como conseguia reunir multidões de até milhares de pessoas para ouvir a pregação do Evangelho, sem utilizar nenhum meio de propaganda ou comunicação em massa, ele respondeu:
Eu me coloco em chamas, e o povo vem de toda parte para me ver queimar.1
Nosso Deus não trata as pessoas com parcialidade6 – o mesmo fogo, o mesmo poder do avivamento que estava disponível para John Wesley, Charles Finney e tantos outros avivalistas, conhecidos e desconhecidos, que tocaram as nações e mudaram a História ao longo dos séculos passados, está disponível hoje para você e para mim. Basta que queiramos ser portadores da presença daquele que é o fogo consumidor7, custe o que custar. Basta com que nos saturemos com a palavra e com a pessoa do Senhor Jesus, e nos incendiarmos com a labareda da sua compaixão pelo mundo, pelos aflitos, os excluídos e os perdidos. Basta com que nos coloquemos em chamas do amor divino para que possamos ir aos campos já amadurecidos para a colheita8. Somente desta maneira, podemos viver, nos dias atuais, um verdadeiro avivamento.
Seja você o avivamento que quer ver no mundo.
Pr Paul David Cull
www.avivamentoja.com
1 Wikiquotes, https://pt.wikiquote.org/wiki/John_Wesley
2 1 Reis 18:44
3 Preleções sobre o avivamento da religião por Charles G. Finney, citado em “Os 100 acontecimentos mais importantes da história do cristianismo” por A. Kenneth Curtis, J. Stephen Lang e Randy Petersen
4 Dicionário Michaelis, http://michaelis.uol.com.br
5 Poder do Alto por Charles G. Finney, Extraído do Arauto da Sua Vinda Ano 28, nº 2 – Maio 2010
6 Atos 10:34
7 Hebreus 12:29
8 João 4:35