O jejum é uma das atividades mais espirituais que existe, praticada pela maioria das grandes religiões do mundo. Os judeus, muçulmanos, budistas, e hindus todos praticam o jejum, de uma forma ou outra. Mas quando o Senhor Jesus começou Seu ministério terrestre, Ele fez uma coisa esquisita, ou melhor, algo que Ele não fez chamou a atenção dos religiosos ao Seu redor. Ele não ensinou os Seus discípulos sobre o jejum.
Vamos ler esta história em Marcos capítulo 2, versículos 18 a 20:
Tanto os fariseus quanto os discípulos de João Batista estavam observando um dos jejuns praticados pelos Judeus, provavelmente um dos jejuns estabelecidos na Lei de Moisés. Mas Jesus e Seus discípulos não estavam participando nesta disciplina espiritual, então os fariseus e os discípulos de João foram juntos a tirar satisfação do Senhor Jesus.
A Sua resposta foi que ainda não estava na hora para Seus discípulos jejuar. Ele os comparou com os convidados para uma festa de casamento, e disse que, naquele momento, a coisa mais correta era para eles participaram naquela festa. Podem os convidados para o casamento jejuar enquanto o noivo está com eles?
Jesus explicou que haverá um dia quando Seus discípulos iriam jejuar – depois que o Noivo lhes foi tirado. Ele ainda usou a parábola do vinho novo e dos odres velhos para explicar que primeiro Ele precisava retirar toda a estrutura religiosa legalista dos Seus discípulos – a religiosidade dos Fariseus que, sim, até os discípulos de João ainda tiveram – antes de enchê-los com o vinho novo do Seu Espírito.
O que o Senhor Jesus estava estabelecendo aqui foi um princípio do Reino, que podemos chamar do “princípio do relacionamento e não do ritual”. Quantas vezes nós fazemos coisas para o Senhor – até sacrifícios de algum tipo – em vez de simplesmente gastar tempo com Ele, desfrutando da “comunhão do Seu Espírito”1, da presença do Noivo?
Vemos este princípio na velha história de Marta e Maria. Marta estava fazendo muito para o Senhor Jesus – preparando uma refeição maravilhosa para Ele e Seus discípulos, enquanto Maria apenas “assentando-se aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra”2. Mas quando Marta reclamou ao Senhor sobre a aparente preguiça da sua irmã, ela recebeu a resposta: “Marta, Marta, estás ansiosa e preocupada com muitas coisas, mas uma só é necessária. Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada:”3.
Até o próprio jejum pode tomar o lugar da verdadeira comunhão com o Senhor Jesus. Devemos jejuar, sim, porque em Mateus 6:16 lemos “quando jejuardes” e não “se jejuastes”, mas até o ato do jejum não deve tirar o foco da Pessoa do Senhor Jesus.
O que é, então, o propósito do jejum? Eu creio que o jejum é uma expressão de uma verdadeira paixão, uma busca intensa para a presença do Senhor Jesus, quando dizemos, como Jó, “as palavras da sua boca prezei mais do que o meu alimento”4.
O resultado desta busca é que nós O conhecemos mais perfeitamente, conhecendo o Seu infinito amor por nos. E à medida que nós conhecemos, verdadeiramente, o Seu amor, iremos também refletir e mostrar este amor às pessoas ao nosso redor. Se nossas práticas religiosas, e até o ato do jejum, não resultam em mais compaixão para com os perdidos, excluídos e oprimidos, elas são apenas rituais que faltam a verdadeira vida de Deus.
Em Isaías 58 nós lemos uma reclamação do Senhor contra Seu povo exatamente por este motivo, por causa dos seus jejuns religiosos!
Neste desabafo de Deus contra a religiosidade do Seu povo, vemos o que é realmente importante aos Seus olhos. Ele não se importa com a autoflagelação, o sofrimento imposto apenas por fins religiosos, mas sim, Ele que ver a justiça, a compaixão, e a misericórdia fluindo através do Seu povo.
O Deus que “faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e envia chuva sobre justos e injustos” quer que nós aprendermos a agir mais e mais como Seus filhos5, revelando Seu infinito amor às pessoas ao nosso redor, principalmente aos oprimidos, esquecidos, e necessitados.
O Apóstolo João explicou que nosso amor por Deus deve se expressar em ações de compaixão para nosso próximo:
O verdadeiro amor de Deus, derramado “em nossos corações pelo Espírito Santo”6, se expressará através das nossas obras, o fruto da nossa fé. Tiago explicou que, mesmo sendo salvos pela fé e não pelas obras7, se a nossa fé não produzir as verdadeiras obras de Cristo, demonstrando o fruto do Seu Espírito em nós8, ela não é uma fé salvadora verdadeira, mas, sim, uma fé que já está morta!
Em Mateus capítulo 25, o Senhor Jesus contou a parábola dos bodes e as ovelhas no dia do juízo final. Essa parábola pode até parecer um pouco “esquisita”, com se o Senhor Jesus estivesse falando que a salvação dependesse somente das nossas obras, portanto precisamos lê-la com atenção redobrada:
Nessa parábola nós temos dois tipos de pessoas: as ovelhas, ou “os justos”, e os bodes, também chamados de “malditos” pelo próprio Senhor. Ambos são “crentes” – identificando-se como seguidores do Senhor Jesus – porque ambos O chamam de “Senhor” (versículos 37 e 44). Mas há uma grande diferença entre os dois povos. Nas palavras do cantor Keith Green, vemos que “a diferença entre as ovelhas e os bodes, consistia-se naquilo que eles fizeram, ou deixaram de fazer”.
Mas, essa diferença é muito mais profunda do que apenas as obras que cada um praticava, ou não praticava. As obras foram o reflexo de uma atitude de coração, uma atitude que o Senhor Jesus capturou quando Ele falou, “quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (versículo 40). A diferença foi que os justos não se importavam apenas com as coisas visíveis, as coisas grandes, as coisas “espirituais”, mas ministravam, de formas práticas, o amor e a compaixão de Deus às pessoas esquecidas, desprezadas e rejeitadas.
Vamos praticar o verdadeiro jejum.
Iremos orar, jejuar, subir monte? Sim, tudo isso e mais! Precisamos “buscar ao Senhor até que venha e chova a justiça sobre vós”9. Precisamos gastar muito tempo na presença do Noivo, para que possamos estar sempre mais e mais cheios da Sua compaixão, Sua misericórdia e Seu amor.
Porém, precisamos, também, ser “cumpridores da palavra, e não somente ouvintes”10, deixando que a gloriosa presença de Deus flua através de nós, até que se cumpra a promessa do profeta Habacuque “Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar”11. Precisamos ser os instrumentos, através dos quais, o amor do Senhor Jesus possa fluir até “estes seus pequeninos irmãos”.
Pr Paul David Cull
www.avivamentoja.com
1 2 Coríntios 13:13 ou 14
2 Lucas 10:39
3 Lucas 10:41-42
4 Jó 23:12
5 Mateus 5:45
6 Romanos 5:5
7 Efésios 2:8 e 9
8 Gálatas 5:22
9 Oseias 10:12
10 Tiago 1:22
11 Habacuque 2:14
Citações da Bíblia da Edição Contemporânea de Almeida da Editora Vida.